Problemas nos pés de pacientes diabéticos são tão complexos que o seu conjunto ganhou um nome pela Organização Mundial de Saúde: a Síndrome do Pé Diabético. Não é somente uma ferida no pé de uma pessoa diabética. São alterações crônicas, algumas irreversíveis, provocadas pelos níveis elevados de glicose no sangue durante um período.
A primeira alteração que ocorre é a neuropatia diabética, que nada mais é do que o dano aos nervos periféricos, causado pela inflamação gerada pelo nível elevado de açúcar no sangue. A inflamação dos nervos das pernas e pés é a base que explica muitas alterações observadas no pé diabético.
É interessante que o açúcar no sangue nem precisa ser muito alto para que esse dano ocorra. Em um estudo, 49% das pessoas com pré-diabetes e 50% das pessoas com diabetes recém-diagnosticado apresentaram neuropatia diabética. Daí já se conclui que o controle rigoroso da glicemia deve ser feito sempre. Isso só é possível com a adoção de hábitos saudáveis como estilo de vida, e não como uma obrigação que permite vacilos.
A inflamação gerada pelo diabetes estimula o aparecimento de placas ricas em cálcio, gordura e células inflamatórias na parede de todas as artérias, especialmente nos membros inferiores, chamadas de placas ateroscleróticas. Estas podem aumentar até ocluir a artéria, o que reduz o fluxo sanguíneo para o órgão, situação denominada doença arterial periférica.
Em consequência, os pés recebem menos oxigênio, o que prejudica a cicatrização e pode levar à morte do tecido, conhecida como necrose ou gangrena.
Para completar a tríade de causas para o pé diabético, temos a relação entre o diabetes e a infecção. O diabetes descompensado pode piorar um quadro infeccioso, bem como uma infecção pode descompensar o diabetes.
Qualquer lesão na pele do pé de um paciente diabético pode infectar. Como esse paciente apresenta uma resposta inadequada às infecções, estas usualmente são mais graves.
Como prevenir, então?
O primeiro e mais importante passo é manter o diabetes sob controle. Isso envolve manter uma rotina de hábitos saudáveis como estilo de vida. É preciso enxergar que aqueles hábitos são justamente o que vai melhorar a sua qualidade de vida no longo prazo. Exceções devem permanecer o que elas são por definição: raras!
Definitivamente não é cedendo a vontades que alcançaremos os melhores resultados. Precisa de maturidade para manter a rotina de dieta e exercícios necessária para controlar essa doença silenciosa
E como saber se eu tenho pé diabético?
O diagnóstico da síndrome do pé diabético é completamente clínico, ou seja, depende dos sintomas e das alterações observadas no exame físico.
O principal sintoma da neuropatia diabética é a redução seguida da perda da sensibilidade para dor, alterações de temperatura e tato, sendo que esta última é igual a sensação de que o pé está constantemente com uma meia.
Alguns pacientes, entre 30 e 50% deles, apresentam dor neuropática, que se manifesta através de uma dor em queimação de início espontâneo, que não depende de nenhum estímulo externo. Além disso, uma outra forma de apresentação pode ser o que chamamos de alodínea, que é o fato de sentir dor mesmo após um estímulo que não provoca dor, como passar um tecido na pele, por exemplo.
Progressivamente, observa-se também fraqueza dos pequenos músculos dos pés, principalmente dos dorsiflexores, que são os músculos que levantam os dedinhos.
Essas alterações musculares alteram as forças mecânicas durante o caminhar, o que faz com que algumas regiões do pé sofram um aumento de pressão e fiquem com a pele mais grossa, o famoso calo.
Na região do calo surge o que chamamos de mal perfurante plantar, que é o rompimento da integridade da pele e da gordura, formando feridas profundas e propensas à infecção.
Uma outra manifestação da neuropatia é o ressecamento da pele, que favorece o surgimento de fissuras que acabam virando portas de entrada para bactérias, aumentando o risco de infecção.
Com toda essa explicação, concluímos que não podemos negligenciar o exame diário do pé de uma pessoa diabética. Convido a todos aqueles que são diabéticos a olhar a planta dos pés TODOS OS DIAS antes de ir dormir. É um hábito que precisa entrar na rotina do paciente e da sua família. Ao observar qualquer alteração, mesmo que seja uma lesão mínima e inocente, não deixe de procurar ajuda!